Duas grandes obras da ficção científica, Duna e Warhammer 40.000, apresentam cenários em que a humanidade regrediu após perder o controle sobre sua própria tecnologia. Em ambos os universos, a dependência excessiva das máquinas resultou em um colapso intelectual e social. A diferença é que, enquanto o Império do Homem em Warhammer 40.000 sucumbiu ao dogma e à superstição, o universo de Duna encontrou uma solução radical: o aprimoramento humano para substituir a inteligência artificial perdida. Mas como essas narrativas se comparam à nossa própria realidade?
Atualmente, avançamos rapidamente em direção à automação massiva, delegando cada vez mais funções cognitivas às inteligências artificiais. Se não tomarmos cuidado, podemos estar caminhando para um futuro em que o pensamento crítico e científico seja negligenciado, transformando a humanidade em meros espectadores da própria evolução tecnológica.
A Ameaça do “Peso de Pensar”
Nos dias atuais, assistimos ao crescente abandono do pensamento crítico em favor da conveniência digital. Ferramentas de IA já redigem textos, criam imagens e tomam decisões com base em dados que os usuários muitas vezes não compreendem. Empresas e indivíduos começam a confiar cegamente nessas máquinas, sem questionar sua lógica ou suas limitações.
Se essa tendência continuar, podemos nos tornar como os cidadãos do Império em Warhammer 40.000, que não compreendem as próprias tecnologias que utilizam. Em vez de engenheiros e cientistas, temos “sacerdotes da tecnologia”, que aplicam rituais mecânicos em vez de desenvolverem novas soluções. Isso poderia levar a um futuro onde avanços não sejam mais conquistados, mas apenas mantidos por meio da repetição cega.
A história mostra que sociedades que abandonam o pensamento crítico e a investigação científica tendem a entrar em colapso. O Renascimento surgiu após a Idade Média exatamente porque houve uma redescoberta do conhecimento perdido. O mesmo pode acontecer conosco se permitirmos que as máquinas pensem por nós, sem que ao menos saibamos como funcionam.
A Alternativa: O Aprimoramento Humano
O universo de Duna apresenta um caminho diferente. Após a Jihad Butleriana e a destruição das inteligências artificiais, a humanidade optou por fortalecer sua própria capacidade cognitiva. Ordens especializadas como os Mentats (humanos treinados para realizar cálculos e previsões com precisão sobre-humana) e a Bene Gesserit (que desenvolveu autocontrole e percepção avançados) substituíram a automação por habilidades humanas elevadas. Em vez de se tornar escrava da tecnologia, a humanidade se aprimorou para continuar evoluindo.
Essa visão nos oferece um modelo que podemos seguir:
- Utilizar inteligências artificiais como ferramentas de suporte, e não como substitutos do pensamento humano.
- Incentivar a educação crítica e científica, preparando as próximas gerações para entender, criar e aprimorar as próprias tecnologias.
- Desenvolver programas de aprimoramento cognitivo, explorando o potencial da mente humana para análise, criatividade e tomada de decisão.
- Promover o aprendizado contínuo, garantindo que as máquinas sirvam para expandir nosso conhecimento, e não para restringi-lo.
A inteligência artificial não precisa ser um caminho para a estagnação. Pelo contrário, pode ser o impulso necessário para alcançarmos um novo patamar de entendimento. Mas isso só acontecerá se formos ativos nesse processo, e não meros consumidores passivos de conteúdo automatizado.
Conclusão: O Futuro Depende de Nossa Escolha
Estamos em um ponto crucial da história. Podemos seguir o caminho da regressão e dependência total das máquinas, como no Império de Warhammer 40.000, ou podemos abraçar o aprimoramento humano e transformar as inteligências artificiais em catalisadores da evolução, como em Duna (após o equívoco que levou à Jihad Butleriana).
A escolha está em nossas mãos: seremos os senhores do nosso destino ou meros adoradores cegos da tecnologia? O desafio está lançado.
* Por Guilherme Hoppe, CTIO do Ibrawork. Profissional com mais de 15 anos de experiência no desenvolvimento de ecossistemas de inovação e na coordenação de ações integradas entre o poder público e a sociedade civil.